domingo, 25 de novembro de 2007

Você sabe qual é o valor da vida?

Levou mais um copo à boca. Agora já nem sentia o gosto ou o prazer de beber, era automático e ele nem notava. Virou uma mania, um descontrole, um vício. Era melhor assim, pra ele. Não queria se curar e não via problema algum nisso; ele nem mesmo sabia que isso era um problema, nem mesmo notava o que estava fazendo.

O homem havia deixado escapar muitas coisas assim. Momentos escapavam de suas mãos; estava doente agora, e não percebia.

Aquele era aparentemente o último copo. Mas era apenas o último do dia, o dia seguinte viria e ele continuaria a beber do mesmo jeito. Surpreendentemente nada sentiria, porque era algo que já fazia parte dele. E ele não era diferente de muitos ao seu redor, por isso de nada suspeitou.

De repente, olhando e analisando atentamente o copo parado na sua frente, percebeu o que havia deixado escapar. Percebeu o vício e o problema. Não era exatamente ruim o que o homem estava bebendo, era apenas mal usado. Mas era tarde demais e assim como repentina foi sua descoberta, repentina foi sua morte.

O homem havia bebido sua vida.

*

A gente vê, mas na verdade não vê. Eu, por exemplo, não percebo as (poucas) árvores no caminho para a escola, nem mesmo as ruas por onde passo. É tudo automático; normal, normal. O mundo é mecânico.
Poetas observam tanto e observam de tal forma que me faz ter inveja até; eu queria ter essa capacidade. Mas se eu fosse parar para prestar atenção em tudo, acho que enlouqueceria. Poetas devem mesmo ser loucos.

Deve ser a loucura mais estimulante que existe.

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